quinta-feira, dezembro 25, 2008

Roteiro Animado

Estou abrindo um novo projeto de estudo voltado a roteiro para animação. O assunto já me interessa a anos e acredito que a hora seja mais do que perfeita para colocarmos os pingos nos i's :)

O objetivo é avaliar as ferramentas e macetes usados por roteiristas para criar histórias e relacionar como as mesmas funcionam para animação, se existem ou não peculiaridades e diferenças para os filmes animados etc.

É claro que, como de costume, vamos traduzir e resumir bastante coisa mas espero que possamos desenvolver e discutir também.

Abaixo existe uma lista de itens para começar a pensar no assunto:

Esses são só alguns exemplos para começarmos... É muito fácil se perder em todos os links e teorias sobre roteiros, histórias ou storytelling... então defendo que, como roteiristas temos que ver tudo isso como ferramentas mesmo: É possível contruir um roteiro apenas com um martelo mas se tivermos um prego também ajuda. O que é o mesmo que dizer: Não espere saber todos os truques antes de começar a escrever, descubra durante o processo prático... Afinal, vamos aprender coisas novas sobre histórias para o resto da vida de qualquer forma!

Alguns links úteis para quem está começando:
Alguns autores básicos para quem quer saber mais:
Alguns sites para baixar roteiros:

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Conceito Geral

O Conceito Geral não é o objetivo:
O que você quer mostrar com sua série? como ela vai ensinar as crianças? como ela vai passar mensagens de cidadania? ecologia e mensagens didáticas sem ser chata?... isso é o seu objetivo, sua motivação como autor para criar aquela série, mas não é conceito geral.

Acho válido ter isso tudo em mente e certamente a melhor forma de proceder é ter certeza de que sua série é uma metáfora, uma alegoria ou simboliza tudo isto, mas explicar esses objetivos não é o que se esperamos ao ler um conceito geral.

O conceito geral na verdade é "o que é a série?". Uma historinha de 8 linhas, sintética falando resumidamente do protagonista, sua motivação, o conflito geral e o universo no qual ele vive... de preferência usando o tom e deixando claro o tema.

Elementos que podem entrar no conceito geral:

  • Protagonista
  • Motivação
  • Antagonista ou Obstáculo
  • Conflito Geral
  • Universo
  • Tom: Histórias Infantis? Literatura de Cordel? - Isso não precisa ser explicado, a forma do texto pode criar o clima nesse sentido.
  • Regra básica do universo
  • Tudo mais que venda sua idéia e que instigue a imaginação do leitor!
Fazer isso sem ser explicativo, contando uma história, sendo sintético, objetivo e convencendo o leitor de que sua idéia é ótima e "seriável" é tudo que temos que fazer!
Segue abaixo o conceito geral de uma série que venho desenvolvendo a algum tempo e que estou usando como exemplo nas oficinas:
Um dia, o Lobo Mau se cansou de levar a pior e resolveu mudar as regras no “mundo do faz de conta”. Aliou-se à Bruxa Má assimilando seus poderes para detonar as histórias infantis e transformar as fofas criaturinhas do bosque num exército de monstros zumbis.

E agora? O que será de todas as crianças do mundo sem os contos, as fábulas e os livros para preencher seus sonhos? Esse é o destino dos coelhinhos fofinhos, dos ursinhos peludos, das fadas e das donzelas? – Não! Se depender de três corajosos porquinhos... Power Porcos!
Comece por uma logline:
Uma forma legal de começar o conceito geral é tentar definir sua série em uma frase:
"3 porquinhos power rangers!"
Com isso trabalhamos as idéias através de uma sessão rápida de brainstorm. Depois de listar as idéias essenciais que vão vender a série podemos escolher as que são pertinentes de forma geral e completamos a logline chegando ao conceito geral.

Logline -> Brainstorm de boas idéias e ganchos para vender a série -> Conceito Geral

Evite coisas óbvias:
Estamos falando de um edital para séries de animação com personagens que vão participar de aventuras divertidas, vão entrar em conflito e resolver problemas, então podemos evitar as coisas genéricas que o leitor já sabe e tentarmos apresentar o que é específico e interessante na nossa série... Evitar algumas frases e palavras clichês é algo que pode ajudar nosso projeto a se destacar daquele bolão de projetos que os avaliadores estarão lendo:

O que poderia ser evitado:
"É uma série de animação"
"Uma turminha esperta que vai participar de aventuras divertidas"
"Um grupo de crianças prontas a resolver os problemas"
"Um garoto curioso, esperto e muito brincalhão"

Acho que já deu pra perceber que ser genérico aqui é dar um tiro no pé já que estamos querendo que nosso conceito geral se destaque, queremos contraste diante dos outros projetos e não harmonia!

Não seja explicativo:
Sei que já falamos disso mas vale a pena reforçar o que é ser explicativo. Não subestime o leitor, ele conhecerá sobre roteiro, saberá como o roteirista vai explorar características e coloca-las em choque para criar os conflitos e situações que vão dar origem as histórias.
NÃO EXPLIQUE para ele como fazer isso! Conte a sua história, insinue essas possibilidades e deixe que ele descubra como a sua série vai ser interessante e como vai ser fácil criarmos 12 episódios usando seu texto como fonte de idéias. Deixe que ele pense que é esperto por ter descoberto os possíveis conflitos e a quantidade de histórias que podem ser geradas :)

O que é explicativo e poderia ser evitado:
"O conflito se dará..."
"Usamos isso para contar as histórias que se darão através..."
"Assim criamos um contraponto entre..."

Isso tudo tem que ficar implícito.

Repetições e Listagens:
O Conceito Geral é para serem as linhas mais sintéticas e convincentes da bíblia. O ideal é nem chegar a usar as 8 linhas disponíveis. Procure não dizer a mesma coisas duas vezes, procure não repetir as mesmas coisas, não fale duas vezes algo que já foi dito.... viu como é irritante fazer isso!? Principalmente em seqüência!? É sempre possível usar uma única frase para combinar dois predicados para um mesmo sujeito. Se não tiver como fazer isso pelo menos procure variar o substantivo: "Nick", "o velho do mar", "o pirata"! Usando um elemento para complementar o outro e ir montando a idéia que temos daquilo.

Outra coisa é evitar listagens que não dizem nada além dos nomes dos personagens, sem explicar nada sobre eles. Agrupar isso pode ser uma boa idéia: "A turma", "Os porquinhos", "o time" ao invés de: "Huguinho, Zezinho, Luizinho e Fulaninho são patinhos que vivem em um mundo divertido. Huguinho, Zezinho, Luizinho e Fulaninho vão a escola e quando Huguinho, Zezinho, Luizinho e Fulaninho se metem em encrenca..."
As listas ficam pior ainda se usarmos listas repetidamente e em seqüencia. Isso também serve para adjetivos na descrição dos personagens. Eu quero saber o que é geral aqui. Se sua série é sobre um grupo de porquinhos que lutam contra o Lobo Mau, me diga apenas isso e depois distrinche quem são os porquinhos.

Faça um Ping Poing:
O conceito geral é ao mesmo tempo a primeira e a última coisa que criamos para a série. Primeiramente porque é interessante termos um ponto inicial para escrevermos a proposta e a descrição dos personagens. Com isso nos mantemos sempre dentro do mesmo ponto central da idéia. Mas, depois de escrever toda a série e passar pelo roteiro do piloto e pelos argumentos, certamente é uma boa idéia revermos o nosso conceito geral. Na verdade acredito que ir e voltar a todo tempo e garantir que todas as partes da bíblia estejam funcionando juntas e se complementando seja a melhor forma de usar o espaço que temos e manter a idéia consistente e convincente.

A importância do Conceito Geral:
Ele vai ser a primeira coisa a ser vista no seu projeto, junto com as artes conceituais! Ele é o grande responsável pela virada de página, pela leitura da proposta. Se a sua série não pescar o leitor aqui ele pode nem chegar a ler o resto. Imagine que você tem 2000 projetos para ler. Como fazer um primeiro corte do que é bom e do que é ruim? Conceito Geral e Arte Conceitual estão funcionando? Se não, vale a pena ler o resto? Pode até ser que a série seja uma boa idéia mas se o autor não conseguiu sistetizar e apresentar a idéia de forma direta, como ele vai escrever 12 episódios? como vai viabilizar a produção? Ele entende a proposta do edital? Ele tomou o cuidado de me convencer? Ele vai conseguir convencer o público?

Essas são só algumas dicas para começar. É importante comentar que o Conceito Geral vai complementar a prospota e as descrições de personagens aproveitando ao máximo o espaço que temos para fazer da nossa pré-bíblia uma máquina azeitada de criar idéias!

Licenciamento e Audiência

Alberto Saraiva, criador da rede de restaurantes Habibs fala sobre como o PicaPau ajudou suas vendas e mais alguns macetes que usou na campanha para agradar seus clientes:

São 8 horas da noite de sábado do mês de setembro. Ao visitar uma de nossas lojas Habib’s, fiquei desesperado. Uma criança à minha frente está aos gritos, chorando, querendo porque querendo o bicho de pelúcia do Pica-Pau anunciado na TV como brinde do kit Habib’s. Não há pelúcias na loja. Acabaram.

Meu desespero aumentou na mesma intensidade do choro da criança. Tentei, em vão, acalmá-la. Os pais, claro, estavam revoltados. Nada consegui. Não tive dúvidas. Tirei os sapatos, subi na mesa do restaurante, desgrudei um enorme móbile do Pica-Pau pendurado no teto e o entreguei a ela. Como num toque de mágica, a criança abriu um enorme sorriso e me disse: "Obrigado, tio!" Havia ainda a situação dos pais. Peguei o endereço deles e, no outro dia, enviei uma enorme caixa com todos os tipos de Pica-Pau de pelúcia que existiam.

O episódio fez parte de uma das mais bem-sucedidas campanhas de vendas do kit Habib’s (composto de duas esfihas, um suco e uma porção de batatas fritas) que fizemos nos últimos anos. Desde julho, quando a campanha começou, saímos de um patamar de vendas de 150 000 kits para 750 000 por mês - cinco vezes mais do que havíamos calculado.

A ânsia da prática de "oferecer mais e cobrar menos", sobre a qual escrevi aqui há poucas edições (a pelúcia no mercado custa de 10 a 15 reais), fez com que não prevíssemos que a procura seria tão grande. Em pouco tempo, os Pica-Paus de brinquedo acabaram, gerando protestos nas lojas que não os tinham.

Em situações como essa não adiantam apenas pedidos de desculpas aos clientes. Primeiro, porque eles não aceitam. Segundo, porque o erro é nosso e por nós tem de ser resolvido. A saída para um erro que cometemos tem de passar pelo sacrifício da empresa - e não do cliente.

Dar conta de uma demanda tão acima de nossas previsões exigiria solucionar dois fatores que não estavam sob nosso controle. Primeiro, a risada do Pica-Pau dependia de um chip importado da China, que demora 45 dias para chegar. Segundo, o fabricante de pelúcia nacional - leia-se 700 costureiras domésticas - tinha capacidade de produção de 15 000 unidades, ante uma venda diária de 25 000. A cada dia de campanha, 10 000 crianças ficavam sem o bichinho de pelúcia do Pica-Pau.

Como já disse: clientes não aceitam desculpas em situações como essa. Erros devem ser assumidos com medidas resolutivas e bastante rápidas. Não há como se esconder ou deixar simplesmente o tempo passar. Está em jogo sua marca, sua reputação e o amor e o respeito dos clientes.

A saída encontrada foi oferecer, de graça, seis tipos diferentes de DVDs do Pica-Pau, vendidos no varejo a 25 reais cada um. Resultado: conseguimos conter a fúria dos pais e agradar às crianças. Como sempre digo: não há que se reclamar do azedume do limão. É com ele que se faz uma bela limonada.

Logicamente, o entendimento do problema criado, a percepção aguçada e a rapidez em tomar medidas foram fundamentais. Por exemplo, nossa propaganda original sofreu diversas modificações. Novas peças publicitárias foram criadas e nossas desculpas aos clientes vieram em forma de um presente: uma cartela com dez lindos adesivos da turma do Pica-Pau para as crianças que imitassem o Pica-Pau, com ou sem consumo, durante dez dias.

Ficam duas lições, que compartilho aqui com vocês. Uma é: se as vendas andam "chochas", arrume um "Pica-Pau". A outra é: sempre que você errar, seja rápido. Nada de desculpas formais - recompense, presenteie seu cliente com algo que o deixe ainda mais feliz. Certamente, ele vai perdoá-lo.


É impressionante como uma série que já parou de ser produzida, com piadas que vem des dos anos 40 ainda consegue ser universal e ter um dos melhores ibopes da Tv brasileira. Segue a matéria curta na Folha Online:

O desenho animado "A Turma do Pica-Pau" deixou a Record, por mais de uma hora, em primeiro lugar no ranking do Ibope, no último domingo.

O programa liderou a audiência das 11h24 às 12h44. Nesse período, a Record ficou com nove pontos no Ibope da Grande São Paulo, à frente da Globo (8 pontos) e do SBT (6).

No embalo do sucesso do personagem na TV aberta, a Universal Pictures decidiu lançar a coleção de DVDs "Coleção Clássica Pica Pau e Seus Amigos", com as aventuras do pássaro mais excêntrico do desenho animado. Ao todo são oito DVDs --os três primeiros chegam às lojas em dezembro.

Desde o ano passado, o desenho exibido pela Record tem incomodado a emissora do Jardim Botânico nos levantamentos de audiência.

terça-feira, dezembro 09, 2008

Treinamento e Outras idéias!

Segue abaixo a resposta de um e-mail para lista de Desenvolvimento de Séries sobre como resolver os problemas de demanda por animadores que o AnimaTV vai acabar gerando... São só idéias mas se você está procurando se movimentar vale a pena dar uma lida, vai que você se identifica com alguma :)

Oi Cristiane,

aproveitando sua pergunta vou tirar uma dúvida que um dos autores de Porto Alegre teve para a série dele que seria feita em Blender, um software relativamente novo no "mercado" de 3D:

É possível estar colocando treinamento de equipe no orçamento da série para o AnimaTv, tomando cuidado é claro sobre como compensar isso. No caso dessa série específica o Blender é um software livre, ou melhor, grátis! A grana que ele estaria gastando para comprar licença para 10 Mayas ele vai acabar investindo em treinamento, dai compensa.

Cuidado que uma coisa é produzir a série (12 episódios em 1 ano) e outra é produzir o piloto (6 meses)... Avalie bem se é necessário treinamento para fazer o piloto mesmo!

Outra coisa é que eu acredito que o AnimaTv vai forçar os estúdios a estarem subcontratando mão de obra de todos os estados. Mesmo que isso não aconteça efetivamente com um estado ou outro acho que é uma boa oportunidade para estar pleiteando com universidades a criação de formações de animação! Afinal em breve existirá demanda e temos números na mão pra estar reforçando essa idéia: tanto os números e valores do AnimaTv quanto os números da pesquisa de animadores.
http://www.abca.org.br/animadoresdobrasil/
Obs: Divulguem a pesquisa de animadores, mesmo para os que ainda não são sócios da ABCA, quanto mais preciso for esse número melhor para todos nós! Ah! e divulguem a ABCA claro, quanto mais gente mais força a associação vai ter... Se na sua região ainda não tem uma Regional da ABCA é uma boa idéia tentar criar uma logo. Aqui em Curitiba tem bastante gente legal na oficina e eles ainda não tem uma regional ainda!

Uma outra coisa importante em termos de movimentação que está virando questão nas oficinas é que muita gente ainda não tem produtora e tem que encontrar uma para entrar no AnimaTV. Algumas pessoas inclusive já possuem um grupo de amigos que trabalham na área e que estão participando da criação da série. Acho que essa é uma boa oportunidade para todos de pensar seriamente em abrir uma produtora.

O super simples ou simples nacional pode ser uma boa opção para começar- http://www8.receita.fazenda.gov.br/SimplesNacional/

Só tem que tomar cuidado para verificar com o contador da produtora se com o simples nacional é possível estar gerando a documentação necessária para o AnimaTv. Essa é uma questão legal que nem a coordenação do AnimaTv teve como responder ainda. Sugiro que a galera corra atrás disso o quanto antes para não ser barrada por uma questão legal. Quem souber e puder postar um comentário aqui vai estar ajudando a todos.

Mesmo que não seja possível entrar no AnimaTv com o super simples de repente ele é uma opção viável para começar a montar seu próprio estúdio para o próximo edital e dai fazer a conversão para empresa tradicional!

Lembrando também que a empresa deve ser registrada na Ancine para entrar no edital - ver regulamento no site do AnimaTv para mais infos.

Ainda vou estar tentando ver mais sobre isso, mais acho que vale a pena correr atrás logo!

Outra coisa importante é estar produzindo material didático em português para os animadores se auto-formarem também. Livros, DVDs de treinamento, etc... Eu estou tentando escrever mais aqui no SeAnima - e temos um mutirão lá para traduzir as notas do animador Walt Stanchfield que são de domínio público - Quem puder ajudar por favor deixe um comentário aqui com contato, website etc...

Encontrar Editoras interessadas em fazer traduções também é uma idéia interessante. Eu sei que já existem editoras conversando sobre o Survival Kit já... Um livro traduzido pode mudar o andamento da animação no Brasil, por incrível que pareça. Eu diria que além desse seria legal o "Timing for Animation", e um bom livro de roteiro e formatação de série como o "Animation Writing and Development" ou o "How to Write for Animation"... um que me parece bom de storyboard também é o "Prepare to Board"... as idéias são infinitas.

sábado, dezembro 06, 2008

Dinâmica de Características

Uma coisa essencial no desenvolvimento de personagens e da série como um todo é a dinâmica que acontece entre as características que definimos para cada personagem. Suas motivações, suas peculiaridades e até suas propriedades físicas se completam, entram em choque e criam as situações e conflitos nos episódios, além de darem o tom da série.

A coisa que mais vi nos projetos para o edital de séries do AnimaTV são personagens que não fecham com o tema ou que não tem dinâmica alguma implícita, não existe insinuação dos possíveis conflitos. Uma bíblia escrita assim não serve como uma máquina de idéias para o roteirista, e é portanto inútil.

O protagonista, nossa estrela, aquele com quem temos que nos identificar é a peça chave para a série. A partir de suas características os roteiristas criarão a maior parte dos episódios. O brainstorm se dá de forma bem simples: Como vou explorar a característica x do personagem y? É claro que durante o episódio todas as outras características podem ser exploradas e mencionadas, mas a fonte de um episódio normalmente é uma situação criada para colocar o personagem em xeque: Como ele resolve isso sendo dessa forma?

Nota: Muitos episódios partem das características dos coadjuvantes também, e eles acabam protagonizando, afinal são co-estrelas. O importante é pensar em como explorar características!

Explorar o personagem é na verdade apresenta-lo, pedaço por pedaço, episódio por episódio... E fazer com que o público ame sua personalidade, já que se identifica e aprende com suas experiências etc...

Uma forma fácil de definir os personagens secundários é pensar em como suas personalidades vão se encaixar com a do protagonista. Como, através deles, poderemos mostrar, valorizar e colocar as características de nosso herói em conflito.

Um exemplo que estou sempre puxando nas oficinas é o seguinte:

Bob Esponja é o super amigo, ele ama seus amigos mais que tudo no mundo. Seria incapaz de magoa-los e prefere perder um de seus orifícios do que perder uma amizade. Além disso ele é todo certinho(quadrado) e seria incapaz de tomar uma atitude incorreta com um amigo do peito.

O "amor incondicional aos amigos" é só uma característica de Bob, mas vamos isola-la e pensar em como valoriza-la!?

Bom, primeiramente ele precisa de um melhor amigo em todo o mundo. Essa é a função de Patrick. Ele é como um irmão da mesma idade e uma oportunidade de Bob mostrar todas as suas características como amigo fiel e criador de infinitas brincadeiras. Ele mostra também que Bob não escolhe suas amizades, já que é amigo de Patrick mesmo que na maioria das vezes ele seja obtuso e bobo como uma estrela do mar.

Mas como mostrar o adjetivo "incondicional"?
Lula Molusco odeia Bob Esponja e gostaria que ele se mudasse para bem longe para sempre! Mesmo assim Bob o ama como um amigo do peito e vive confundindo o fato de serem vizinho com o fato de serem amigos próximos. O Fato de Bob amar até quem o odeia enfatiza a característica e a leva ao extremo, chegando a inconveniência.

É claro que essa é apenas uma das características e poderíamos analisar bem mais a fundo, mas na nossa "pré-bíblia" (documento específico do AnimaTv) devemos apenas insinuar, usando o texto apenas para mostrar que essas possibilidades existem e geram histórias. Imagine que quem lê as características deve criar as histórias e os conflitos espontaneamente. O aprofundamento disso vai se dar na bíblia completa e vai ser maior ainda na bíblia de produção e ainda mais detalhado durante os episódios, então não se preocupe com isso ainda.

Pra fechar então podemos ver mais um exemplo sem a parte explicativa (da forma como entraria na nossa pré-bíblia e lembrando que esse seria um trecho da descrição):

Além de seus amigos a coisa mais importante para Bob Esponja Calça Quadrada (que em inglês significa "o certinho, o correto, o quadradão") é seu emprego como cozinheiro do Siri Cascudo. Ele trabalharia de graça, de segunda a segunda se pudesse, fazendo os famosos e deliciosos Hamburguers de Siri.

Lula Molusco, além de seu vizinho, é seu colega de trabalho. Preguiçoso e com grandes pretensões artísticas o nojento polvo odeia a rotina de trabalho diária e só fica ali porque tem que ganhar seu salário. É incapaz de ficar um segundo além de seu horário e passa o dia emburrado de tédio.

O Sr Sirigueijo, dono do fast food Siri Cascudo, é o chefe mais pão duro e explorador do mundo! É mais fácil abrir uma ostra do que suas garras de siri quando o assunto é dinheiro. Capaz de virar a própria mãe do avesso para ver se cai 1 centavo. Avarento, ele nunca vai gastar nada além do necessário para manter o restaurante funcionando e Bob sempre feliz e trabalhando, afinal o Hamburguer de siri é o segredo do sucesso de seu negócio.

Como dá para notar falei muito pouco de um personagem na descrição do outro. Fiz só para mostrar que isso é possível mas que, mesmo sem isso e, apenas pelo fato das características se chocarem, podemos intuir os possíveis problemas de relacionamento e imaginar 12 capítulos de série facilmente, só dentro do Siri Cascudo.

O que tentei evitar nas descrições a todo custo foram as famosas "listas de características" somadas aos "adjetivos clichês": Lider, curioso e brincalhão nosso herói... etc... Imagine um juri analisando 1000 projetos com um formato como esse, o seu vai acabar passando direto. Evite!

Outra coisa que fiz foi usar exemplos rápidos de situações mas sem, nunca, explicar ao leitor como usa-las, e muito menos explicar qual o objetivo pedagógico ou filosófico da série. O "explicativo" além de chato subestima o profissional que vai estar avaliando seu projeto. Preveja que ele entende de roteiro, que é capaz de imaginar as situações possíveis e que vai poder intuir, a partir das descrições, sobre o que estamos falando e como criaremos identificação... E se ele não conseguir entender isso no conceito, na proposta ou nas descrições você vai ter os argumentos e o roteiro do episódio piloto para demonstrar isso também.

Note que no primeiro exemplo (da amizade) coloquei os trechos explicativos em azul e no segundo exemplo (do trabalho) em vermelho esses trechos não existem.

Notamos também Siri Cascudo (no original Krusty Krabs - Siri Crocante) é o palco para os conflitos que serão gerados por essas características, quer dizer, os conflitos insinuados são muito importantes para criar os cenários. O fato do nome do restaurante se assemelhar ao seu dono também colabora para fazer um comentário social sobre o marketing dos fast food, identificá-lo e manter o universo todo coeso e dentro do tema. Eu não acharia estranho se houvesse uma garra de siri gigante saindo do teto. Imagine o local onde a "senhora do pão de queijo" mora, eu acredito que seja numa fazendinha bonitinha em minas gerais, isso é criar um universo temático, tudo ajuda! :)

sexta-feira, dezembro 05, 2008

AnimaDev - Projeto SeAnima e Grupo de Discussão

Termina hoje a oficina de projeto de séries de TV do AnimaTV em Porto Alegre. Acredito que a maioria dos alunos aproveitou ao máximo e repensou com seriedade seus projetos nos cinco dias intensos de exemplos e discussões exaustivas sobre o assunto.

Vou , assim que acabarmos a próxima oficina (Em Curitiba), tentar passar todas as experiências que adquirimos aqui e lá para o SeAnima. Estou criando um Projeto AnimaDev (Projeto de estudo sobre desenvolvimento de séries de TV e Web) para postarmos apenas sobre isso. Também estou criando um Grupo de Discussão AnimaDev específico sobre o assunto para que tanto os autores que participaram da oficina quanto os que não puderam comparecer possam aproveitar bem a chance que o projeto animatv está dando nesse momento especial do nosso mercado... é trocando idéias que todos colaboramos para reforçar a animação no Brasil, participem!

Pessoal de Curitiba, prepare-se, a partir de segunda a maratona começa ai!